Matéria recebeu destaque nacional no dia Nacional de Combate ao Câncer
Natalia Cuminale, CEO e Diretora de Conteúdo de Futuro da Saúde
Trabalhou como repórter de saúde em Veja, onde publicou diversas capas e reportagens especiais. Natalia é criadora do Futuro Da Saúde, um espaço para se informar sobre os desafios da saúde de forma compreensível e com credibilidade. Jornalista especializada em saúde, com mais de uma década de atuação na área.
O tabagismo, câncer de pulmão e a relação com deficiências físicas e ostomias respiratórias
O câncer de pulmão é um dos tipos de câncer mais comuns e letais no mundo, e está fortemente associado ao consumo de tabaco, incluindo cigarros convencionais e eletrônicos. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o consumo de tabaco está relacionado a aproximadamente 85% dos casos de câncer de pulmão no Brasil. Globalmente, o câncer de pulmão causou aproximadamente 1,8 milhão de mortes em 2022, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), representando uma das principais causas de óbito por câncer. Para o Brasil, o INCA projeta que, para o triênio 2023/2025, o país registrará cerca de 97.680 mil novos casos, com taxas de mortalidade extremamente elevadas.
Sintomas e dificuldades no tratamento
Um dos maiores desafios no tratamento do câncer de pulmão é a detecção tardia, já que muitas vezes a doença se desenvolve silenciosamente. Sintomas como tosse persistente, falta de ar, dor torácica e perda de peso geralmente se manifestam apenas em estágios avançados. Isso resulta em um índice de mortalidade elevado e em um tratamento complexo, que inclui quimioterapia, radioterapia e, em alguns casos, cirurgia. Esses procedimentos podem resultar em efeitos colaterais significativos, além de causar comprometimentos respiratórios e cardiovasculares.
Tabagismo como fator de risco
O uso de cigarros convencionais e eletrônicos está diretamente associado ao desenvolvimento de doenças graves, como o câncer de pulmão, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) e até a lesão pulmonar associada ao uso de cigarro eletrônico, conhecida como EVALI (do inglês, e-cigarette or vaping product use-associated lung injury). Esses produtos contêm substâncias tóxicas, como nicotina, alcatrão e metais pesados, que, ao serem inaladas, causam inflamação e danos celulares no trato respiratório, além de levar a mutações que podem evoluir para tumores malignos.
O risco de desenvolver câncer de pulmão é elevado em usuários de ambos os tipos de cigarro. Embora os eletrônicos apresentem menores níveis de alguns carcinógenos, eles contêm altas concentrações de nicotina e outros compostos que ainda prejudicam o sistema respiratório.
A DPOC, caracterizada pela obstrução crônica e progressiva das vias aéreas, é comumente causada pelo consumo prolongado de tabaco, que gera inflamação e destruição das estruturas pulmonares, dificultando a respiração e a troca de gases.
A EVALI, por sua vez, é uma condição mais recentemente observada, associada ao uso de vaporizadores e dispositivos eletrônicos. Caracteriza-se por uma inflamação pulmonar aguda, cujos sintomas variam de dificuldade respiratória e dor no peito até febre e tosse. Em alguns casos, a EVALI pode levar à insuficiência respiratória, principalmente entre jovens usuários de cigarros eletrônicos que utilizam produtos contaminados ou com aditivos perigosos.
Impactos físicos e possível necessidade de ostomia respiratória
As sequelas físicas para pacientes com câncer de pulmão avançado incluem enfraquecimento muscular, dor crônica e fadiga, que podem levar a uma perda progressiva de mobilidade e autonomia, causando cansaço extremo e limitando atividades diárias, como caminhar ou realizar tarefas simples e, em alguns casos, necessidade de intervenções cirúrgicas para aliviar sintomas ósseos devido à metástase . Em casos onde o tumor pressiona a traqueia ou bloqueia as vias respiratórias, ou quando surgem complicações respiratórias, pode ser necessária uma traqueostomia — ostomia respiratória que permite ao paciente respirar por meio de um orifício aberto no pescoço, por onde a pessoa passa a respirar. Doenças pulmonares graves, como a DPOC, e outras patologias relacionadas ao sistema respiratório também podem requerer uma traqueostomia, especialmente em pacientes com dificuldades para manter uma respiração adequada.
Implicações econômicas e o
impacto emocional e social
Além das consequências na saúde, o custo econômico do tabagismo no Brasil é significativo. Estima-se que o país gaste aprox. R$ 153,5 bilhões anualmente com despesas médicas e perdas de produtividade relacionadas ao consumo de tabaco. Esses custos incluem períodos prolongados de afastamento do trabalho e aposentadorias por invalidez, impactando diretamente o sistema de saúde e a previdência social. Os impactos emocionais e sociais do câncer de pulmão são amplos, tanto para os pacientes quanto para seus familiares, que frequentemente enfrentam ansiedade, depressão e desafios financeiros. Programas de apoio psicológico são fundamentais para ajudar pacientes e familiares a lidarem com o diagnóstico e as limitações físicas progressivas.
Políticas públicas e ações conjuntas para reduzir o impacto do tabagismo
Compreender a complexidade dos efeitos do tabagismo na sociedade vai além da saúde pulmonar. Para conter este impacto devastador e a crescente onda dos cigarros eletrônicos, as políticas públicas desempenham um papel fundamental. Medidas como a proibição de propagandas de tabaco, a inserção de advertências nas embalagens de cigarro, restrições ao fumo em ambientes fechados e o aumento de impostos sobre produtos de tabaco precisam ser mantidas e ampliadas para desestimular o consumo.
Campanhas de conscientização e programas de cessação do tabagismo são essenciais, tanto para reduzir a prevalência do câncer de pulmão quanto para minimizar os custos sociais e econômicos associados. Investir em prevenção e tratamento acessível é uma responsabilidade coletiva, e cada ação para diminuir o consumo de tabaco representa um passo em direção a uma sociedade mais saudável e menos onerada pelos altos custos do tabagismo.
Melissa Medeiros, sobrevivente de câncer de laringe
Fundadora e Presidente Voluntária da ACBG Brasil e Conselheira no Conselho Nacional de Saúde – CNS, Conselheira Consultiva do INCA e Conselheira Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência / SC.
Sobre a ACBG Brasil
A Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço, ACBG Brasil, é uma organização da sociedade civil, de direito privado, sem fins lucrativos, que trabalha em prol dos pacientes e portadores de câncer de cabeça e pescoço e seus familiares em todo o Brasil. Fundada em 2015 com a missão de dar voz a quem não tem e ser os olhos e ouvidos de tantos outros também e com a visão de, no longo prazo, diminuir a mortalidade dos pacientes e ampliar a qualidade de vida dos portadores de câncer de cabeça e pescoço, a ACBG Brasil já alcançou os cinco cantos do Brasil por meio de suas iniciativas.