Câncer de Tireoide

A tireoide é uma glândula que fica na parte de baixo e no centro do pescoço, logo abaixo do pomo de Adão. Sua função é produzir hormônios que são importantes para controlar a taxa do metabolismo (velocidade em que o corpo funciona). Os distúrbios de funcionamento da tireoide podem afetar o corpo todo. Felizmente, conseguimos fazer adequadamente a reposição hormonal de quem retirou a glândula ou quem não produz suficientemente os hormônios tireoidianos.

A tireoide pode ter tumores malignos bem pouco agressivos, que são a maioria, mas também, raramente, ter cânceres, que são muito agressivos e fatais.

Podemos agrupar os tipos de câncer de tireoide em:

  •  carcinomas bem diferenciados, que incluem o carcinoma papiífero e o carcinoma folicular, com suas variantes. O carcinoma papilífero é sem dúvida o mais comum câncer da tireoide e também o que tem melhor evolução.
  •  o carcinoma medular que apresenta uma origem e comportamento diferente e pode ter uma forte ligação hereditária
  • carcinoma pouco diferenciado e indiferenciado, sendo este último muito agressivo e quase sempre fatal, mas felizmente, muito raro.

Existem também tumores benignos da tireoide, como o adenoma folicular.

Quais são os sinais e sintomas?

Grande parte dos nódulos e tumores da tireoide não dão sintomas. O sinal clínico mais comum é a percepção de um caroço na parte inferior do pescoço. Nódulos na lateral do pescoço podem ser indicativos de metástases de câncer de tireoide para linfonodos do pescoço.

É importante frisar que o fato de ter um câncer de tireoide ou nódulo tireoidiano normalmente não acarreta alteração na função da mesma, ou seja, a glândula pode apresentar diversas alterações como nódulos e cistos e estar funcionando perfeitamente. 

Os sintomas mais popularmente conhecidos da tireoide são em relação à sua função, como ganho ou perda de peso, olhos saltados (exoftalmia), queda de cabelo, tremores e não sugerem de forma alguma um câncer de tireoide.

Como é feito o diagnóstico e a investigação (quais os exames mais pedidos)?

Atualmente é muito fácil de se realizar um exame de ultrassonografia que é o melhor método para detectar um nódulo na tireoide. A maioria dos nódulos tireoidianos não são cânceres, e por isto, devemos ter critérios de quais nódulos devemos investigar. Na prática, nódulos pequenos (menores que 1 cm) devem ser acompanhados em sua maioria. 

O exame de ultrassom de tireoide nos oferece muitas informações importantes das características dos nódulos que podem ser mais ou menos suspeitas de malignidade.  Contudo, o exame de punção aspirativa por agulha fina (PAAF) é superior em nos fornecer informações quanto a um nódulo ser ou não câncer. 

O exame de PAAF é uma forma de se coletar células do nódulo tireoidiano através de uma agulha que aspira células de dentro da tireoide guiado normalmente pelo exame de ultrassom. Este material é preparado para ser avaliado por um médico patologista que nos informa, através de uma padronização de laudos denominada Bethesda, se o material coletado é de um nódulo benigno, suspeito ou maligno, ou se a punção não coletou material adequadamente.

O laudo de citologia do PAAF é muito importante para se tomar a decisão de se achar ou não suspeito de câncer um nódulo de tireoide. Entretanto, muitos resultados não são conclusivos. Existem situações onde apenas é possivel afirmar que o nódulo é suspeito de câncer e nesta situação pode-se indicar uma cirurgia para retirada da glândula, denominada tireoidectomia, ou prosseguir na investigação do nódulo através de testes moleculares no produto do PAAF.

Os testes moleculares são interessantes em afastar se um nódulo é câncer, porém nem sempre conseguem isto. Ainda por cima não são baratos e não cobertos pelo SUS ou planos de saúde. Portanto, não são acessíveis no momento a grande parte da população.

Em resumo, serão diversos aspectos que levarão o seu médico a achar se um nódulo é suspeito ou não de câncer de tireoide e a cirurgia pode ser a melhor forma de esclarecer esta dúvida. Se por um lado realizamos mais novos diagnósticos de câncer de tireoide que antigamente, temos ferramentas que nos ajudam a evitar cirurgias que são apenas diagnósticas em nódulos suspeitos de malignidade.

Exames de tomografia computadorizada e Ressonância Magnética podem ser solicitados em situações de tumores mais avançados da tireoide, mas não são rotineiramente solicitados.

A solicitação de exames dos hormônios tireoidianos como TSH, T4 livre, T3, assim como anticorpos tireoidianos como anticorpo anti tireoglobulina (anti Tg) e anticorpo anti peroxidase (anti TPO) são importantes para se avaliar o funcionamento da glândula tireoide. Entretanto, é importante frisar que a presença de um câncer na tireoide não costuma acarretar alterações nas funções hormonais tireoidianas. 

Qual o tratamento?

Linha geral de tratamento

Para os carcinomas bem diferenciados de tireoide, o tratamento principal é a cirurgia de retirada da glândula tireoide (tireoidectomia), associado ou não a tratamentos complementares como iodoterapia e supressão hormonal. A radioterapia ou quimioterapia e drogas alvo, são raramente indicadas, particularmente em tumores disseminados, muito avançados e que já não são mais candidatos aos tratamentos anteriores.

Existe uma tendência atual de ser menos agressivo em câncer de tireoide com características favoráveis, podendo-se indicar cirurgias parciais da tireoide ou a não indicação de iodoterapia.

Já o carcinoma medular de tireoide, bem mais raro, apresenta diferenças no tratamento dos carcinomas bem diferenciados. O tratamento cirúrgico também é o componente principal, porém não se utiliza-se o tratamento com iodo radioativo neste tipo de câncer. O carcinoma medular pode apresentar uma relação hereditária em até 25% e deve ser submetido a exames genéticos para saber se devemos investigar a família destes pacientes.

Cirurgia

A cirurgia de retirada parcial ou total da glândula tireoide é fundamental para o controle local do câncer de tireoide no pescoço. Além da retirada da glândula, pode ser necessário a remoção dos linfonodos do pescoço em um procedimento chamado esvaziamento cervical. Nos carcinomas bem diferenciados, costuma-se indicar o esvaziamento cervical quando há evidências de metástases de linfonodos no pescoço

Atualmente, o câncer de tireoide com características favoráveis pode ser tratado com tireoidectomia parcial, principalmente quando não se prevê a necessidade de realizar o tratamento complementar (adjuvante) com iodo radioativo.

A cirurgia de tireoidectomia é muito segura e com baixas taxas de complicações. Os principais riscos desta cirurgia são alterações temporárias na voz e distúrbios do metabolismo do cálcio, devido a disfunções temporárias nas paratireoides (pequenas glândulas que ficam próximas à tireóide).

Iodo radiativo

Após a cirurgia de tireoidectomia total, pode ser necessário associar o tratamento com iodo radioativo. Este tratamento tem o objetivo de eliminar restos da glândula tireoide e possíveis células tumorais remanescentes tanto no local onde estava a glândula tireoide, como nos linfonodos do pescoço ou algum foco de tumor de tireoide em outro local do corpo.

A grande vantagem deste tratamento é que ele tem grande atuação nas células de tireoide e de câncer de tireoide, mas pouquíssimo efeito em outros tipos de células do corpo, diferentemente da quimioterapia ou radioterapia. 

Esta modalidade de tratamento tem como condições o paciente ter sido submetido a tireoidectomia total, fazer uma dieta restritiva de iodo e desenvolver hipotireoidismo com suspensão da reposição do hormônio tireoidiano (levotiroxina) ou com o uso de TSH recombinante. Doses mais elevadas de iodo radioativo necessitam de internação hospitalar em quartos especiais com isolamento devido a radioatividade emitida temporariamente pelo paciente. 

Supressão hormonal

Todo paciente que é submetido a tireoidectomia total por câncer de tireoide precisa repor o hormônio tireoidiano (levotiroxina) por toda a vida. Isto é feito com um comprimido que se toma diariamente. Este medicamento, na dose correta, evita que haja elevação de um outro hormônio produzido na glândula hipófise denominado TSH (hormônio estimulante da tireoide) que tanto estimula o funcionamento da tireoide como estimula o crescimento do câncer de tireoide. Portanto, para alguns pacientes, administra-se uma dose um pouco maior que o necessário de levotiroxina para manter os níveis de TSH bem baixos e desta forma, não estimular o crescimento de câncer de tireoide.

A intensidade desta supressão hormonal e o tempo em que ela será utilizada são variáveis e devem ser avaliadas pelo médico que conduz o seguimento oncológico.

Radioterapia

Raramente este tratamento é indicado em câncer de tireoide, sendo reservado principalmente para casos inoperáveis ou irressecáveis de tumores avançados ou recidivados.

Quimioterapia, imunoterapia e drogas alvo

A quimioterapia convencional é raramente necessária e normalmente utilizada em câncer de tireoide como um tratamento paliativo e com resultados pouco efetivos.

Algumas drogas alvo têm sido utilizadas para pacientes em que não é mais possível operar ou realizar tratamento com iodo radioativo, para evitar progressão da doença e amenizar sintomas.

Diversas drogas alvo novas estão sendo testadas todos os anos e podem surgir drogas mais efetivas em um futuro próximo. 

Somente a quimioterapia convencional é coberta pelo SUS, mas algumas terapias alvo são cobertas pelos planos de saúde.

Se você tem esta doença ou está com receio que possa ter, quem deve procurar?

Os nódulos da tireoide são habitualmente avaliados pelo médico endocrinologista e pelo cirurgião de cabeça e pescoço, eles farão toda a investigação para avaliar se o paciente deve ser submetido a cirurgia.

A tireoidectomia e um possível esvaziamento cervical é uma cirurgia realizada pelo cirurgião de cabeça e pescoço e a terapia com iodo radioativo é feita pelo médico especialista em Medicina Nuclear.

Renato Capuzzo
Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Cirurgia Oncológica de Seios Paranasais, Cirurgia Oncológica de Base de Crânio, Cirurgia Oncológica de Laringe, Hospital de Câncer de Barretos. renatocapuzzo@gmail.com

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