Câncer de Boca

A boca é uma cavidade que tem a função de mastigação, deglutição, respiração e fala. Consideramos como boca ou cavidade oral as estruturas mais próximas ao lábio, como: a porção anterior da língua e assoalho da boca, gengiva e dentes, mucosa da bochecha e céu da boca (palato duro). É importante não confundir com as estruturas que ficam mais próximas da garganta como: as amigdalas, palato mole (onde fica a campainha) e a parte de trás da lingua que pertencem a orofaringe.

Identificar se um tumor começou na boca ou na orofaringe é muito importante pois altera a forma de tratar.

O principal câncer que acomete a boca é o carcinoma de células escamosas. Este é o tumor relacionado ao consumo de cigarro e alcool. Este câncer costuma ser precedido de alteraçoes na mucosa da boca como leucoplasias (lesões brancas) e eritroplasias (lesões vermelhas).

Existem tumores benignos que podem se desenvolver associados aos dentes, dentro do osso da mandíbula ou maxila, denominados tumores odontogênicos

Outros tipos menos comuns de câncer podem ocorrer como aqueles originados em glândulas salivares, sarcomas (de partes moles ou osso) ou melanoma de mucosa.

Quais são os sinais e sintomas?

O câncer de boca normalmente é uma ferida persistente na boca que não cicatriza. Lesões com duração superior a 15 dias devem ser investigadas, principalmente em pacientes que fumam ou bebem. 

Outros sinais e sintomas que podem ocorrer:

nódulos no pescoço

dor persistente em algum local da boca

dentes que ficam moles sem explicação

manchas vermelhas, escurecidas ou brancas na mucosa da boca

Como é feito o diagnóstico e a investigação (quais os exames mais pedidos)?

Anátomo patológico (biópsia)

Somente é possível dar o diagnóstico de um câncer de boca após uma biópsia da lesão suspeita. Esta biópsia pode ser feita em consultório ou em centro cirúrgico. A biópsia  irá diferenciar uma lesão pré neoplásica de um câncer e orientará o tratamento.

Exames de imagem

Para se ter uma melhor avaliação do acometimento destes tumores, quase sempre serão necessários exames de imagem.

É  comum ser solicitado exames de tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) de pescoço para avaliar tanto a invasão do tumor na boca como também a presença de linfonodos suspeitos de metástases no pescoço. Em tumores muito avançados, a TC de face e pescoço avalia uma possível invasão óssea da mandíbula.

Em casos onde há metástases no pescoço, é aconselhável avaliar a presença de metástases pulmonares por tomografía de tórax.

O exame de Pet-scan pode ser solicitado em situações de suspeita de metástases a distância.

Qual o tratamento?

Linha geral de tratamento

O câncer de boca deve ser tratado com cirurgia para um intuito curativo, sempre que possível, pois não responde bem a radioterapia e quimioterapia. Tumores avançados envolvem habitualmente combinação de cirurgia, radioterapia associados ou não a quimioterapia.

Cirurgia

A ressecção do tumor da boca tem o principal objetivo de retirar o câncer com margens livres de ressecção. Alguns cirurgiões preferem realizar o exame das margens durante o ato cirúrgico, de forma a orientar se precisam ampliar as margens. Isto é chamado de biópsia de congelação. Outro objetivo da cirurgia é restabelecer as funções da boca e por isto, após a ressecção, pode ser necessário algum método de reconstrução. Retalhos locais ou na região podem ser usados. A reconstrução do osso da mandíbula, no queixo, é fundamental ser feita com um retalho microcirúrgico de fíbula (osso da perna), que é um transplante da própria pessoa de um segmento ósseo. Em câncer inicial ou avançado de boca, mesmo sem evidências de metástases no pescoço é recomendável a cirurgia tanto da lesão da boca como a avaliação cirúrgica de linfonodos comprometidos no pescoço. Isto é feito por meio de um esvaziamento cervical ou, apenas nas lesões iniciais, a pesquisa do linfonodo sentinela. Esta é uma técnica para identificar qual o linfonodo tem mais probabilidade de estar acometido pelo câncer de boca. Em linfonodos sentinelas que não tem tumor, não é necessário realizar o esvaziamento cervical.

Radioterapia

A radioterapia costuma ser indicada como um tratamento adjuvante à cirurgia e nos casos de doença em que não seja possível ou desejável realizar cirurgia. Alguns critérios do exame anátomo patológico cirúrgico, como margens comprometidas, extensão extracapsular do linfonodo, invasão perineural e estadio clínico avançado são as principais indicações de radioterapia adjuvante sendo que nas duas primeiras situações, a quimioterapia adjuvante também é indicada.

Quimioterapia, imunoterapia e drogas alvo

A quimioterapia é utilizada sempre como um complemento ao tratamento principal curativo e não isoladamente. 

Drogas alvo e imunoterapia costumam ser utilizadas quando não é possível utilizar quimioterapia convencional, somente superando os resultados oncológicos em situações de tumores específicos. Muitos estudos estão ocorrendo atualmente para avaliar melhores associações destas drogas com os tratamentos convencionais já disponíveis e mudanças podem acontecer nos padrões de tratamento nos próximos anos .   

A quimioterapia convencional costuma ser indicada em câncer de boca nas seguintes principais situações:

em câncer avançado que não é possível ou desejável ser operado.

em câncer submetido a cirurgia com ressecção com margens comprometidas.

em metástases para os linfonodos do pescoço que invadem as regiões adjacentes.

em pacientes com metástases a distância.

Se você tem esta doença ou está com receio que possa ter, quem deve procurar? Para o diagnóstico destes tumores, uma biópsia pode ser realizada por um cirurgião dentista, um cirurgião de cabeça e pescoço ou um otorrinolaringologista. Uma vez confirmado o diagnóstico de câncer, habitualmente a cirurgia é feita pelo cirurgião de cabeça e pescoço. Em tumores malignos avançados, que necessitem de reconstrução, recomenda-se um hospital com estrutura para cirurgia, radioterapia e quimioterapia.

Renato Capuzzo
Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Cirurgia Oncológica de Seios Paranasais, Cirurgia Oncológica de Base de Crânio, Cirurgia Oncológica de Laringe, Hospital de Câncer de Barretos. renatocapuzzo@gmail.com

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