Câncer de Glândulas Salivares

As glândulas salivares são órgãos responsáveis por produzir saliva e são divididas em glândulas salivares maiores e menores. As glândulas maiores incluem os pares de glândulas parótidas, submandibulares e sublinguais (desenho).

 As glândulas salivares menores são numerosas estruturas muito pequenas que estão espalhadas pela boca, orofaringe, faringe, laringe, seios paranasais e cavidade nasal. Ou seja, elas estão presentes em qualquer lugar que tenha mucosa do trato aerodigestivo alto e produzem uma secreção que lubrifica o muco e os alimentos.

As glândulas salivares apresentam uma ampla variedade de tipos de tumores, tanto benignos como malignos. Existe uma distribuição que obedece ao seguinte princípio: quanto maior a glândula salivar, maiores as probabilidades dos tumores originados nestas glândulas serem benignos. Portanto, nas glândulas parótidas, a maioria dos tumores são benignos, nas glândulas submandibulares, metade são  benignos e metade são malignos e nas glândulas salivares menores, a maioria dos tumores são malignos. Os tumores das glândulas sublinguais são extremamente raros e a maioria são malignos. 

Alguns tipos de tumores, como os originados nas glândulas salivares menores, que provém de qualquer localização da mucosa do trato aerodigestivo superior, normalmente são classificados e estadiados de acordo com o local que se originaram (p.ex seios da face, boca, etc). Portanto, alguns tumores, apesar de originados em glândulas salivares menores, são analisados através de sua localização de origem. 

Mas por motivos didáticos, vamos nos concentrar em explicar os tumores das glândulas salivares maiores. Os tumores malignos mais frequentes são o carcinoma mucoepidermóide, o carcinoma adenóide cístico, o carcinoma de células acinares, o carcinoma mioepitelial e vários outros que são menos frequentes. Já entre os tumores benignos, destacamos como o mais frequente, o adenoma pleomórfico seguido  do tumor de Warthin, dentre vários outros.

Além dos tumores originados nas células epiteliais das glândulas salivares citados anteriormente, podem ocorrer  cânceres originados nas células mesenquimais como os sarcomas, nas células linfóides, como os linfomas e também podem ser sede de metástases de outros órgãos, principalmente a pele.  

Quais são os sinais e sintomas?

Os sinais e sintomas dependem de qual glândula está acometida:

na glândula parótida ocorre um nódulo em frente ou logo abaixo do lóbulo da orelha. 

nas glândulas submandibulares os tumores são nódulos localizados no pescoço logo abaixo e anteriormente ao ângulo da mandíbula.

nódulos de crescimento lento sugerem um tumor benigno e nódulos de rápido crescimento podem corresponder a um câncer.

os tumores que alteram a pele subjacente ou levam a alterações do nervo facial (nervo da movimentação dos músculos da face) sugerem que possam ser malignos.

a presença de nódulos no pescoço além do nódulo parotídeo ou submandibular sugerem tumores malignos.

tumores das glândulas salivares menores podem ocorrer em qualquer localização mucosa do trato aerodigestivo superior, mas as localizaçoes mais frequentes são o palato duro e a orofaringe.

Como é feito o diagnóstico e a investigação (quais os exames mais pedidos)?

Anátomo patológico (biópsia)

Somente é possível dar o diagnóstico de um câncer desta região após uma biópsia da lesão suspeita. Em glândulas salivares não é simples se estabelecer o tipo histológico exato do tumor com exatidão antes da ressecção cirúrgica devido à enorme variedade de tipos histológicos.

Normalmente a investigação de nódulo de glândula salivar ocorre com a PAAF (punção aspirativa por agulha fina) ou core biopsy (punção com agulha grossa). Nem todos os cirurgiões indicam exame citológico previamente à cirurgia, pois consideram que esta informação não irá alterar a sua conduta, contudo, às vezes o exame citológico pode sugerir um tumor maligno, mas nem sempre distinguem qual o tipo de câncer. 

Outra forma de se tentar esclarecer o tipo histológico do tumor é através do exame de congelação intra operatório. Nem sempre isto é possível, mas pode contribuir com informações adicionais. 

Mas em conclusão, ocasionalmente só se haverá certeza do tipo histológico, grau de malignidade e outras características no exame de anátomo patológico definitivo após a cirurgia e algumas destas informações são importantes para a decisão de terapias adicionais. 

Exames de imagem

Para se ter uma melhor avaliação do acometimento destes tumores, quase sempre serão necessários exames de imagem.

Ultrassom das Glândulas Salivares

Este é o exame mais acessível, barato e de fácil realização para investigação inicial dos tumores de glândulas salivares. Pode orientar a realização dos exames de PAAF guiados.  Entretanto, como é um exame dinâmico, é muito dependente de quem realiza o exame que pode ser mais ou menos informativo, a depender do detalhamento do laudo do radiologista.

Tomografia computadorizada

Este é um exame muito importante para avaliar os tumores de glândulas salivares, principalmente os mais avançados. Avalia melhor que o ultrassom a presença de metástases para linfonodos no pescoço, invasão dos ossos da face e a extensão do tumor para os espaços profundos do pescoço. 

Ressonância magnética

Avalia de forma superior a tomografia o acometimento dos nervos cranianos, invasão das meninges e base do crânio.

PET-scan

Utilizado principalmente em casos de suspeitas de metástases a distância e para comparar a presença de tumor pré e pós tratamento, ajudando a elucidar imagens equívocas nos exames de imagem anteriormente citados.

Qual o tratamento?

Linha geral de tratamento

Tantos os tumores benignos como os cânceres das glândulas salivares devem ser tratados, quando possível, com ressecção cirúrgica completa. Este é o tratamento mais eficiente e recomendado.

Serão associados tratamentos adjuvantes para a cirurgia em casos de cânceres avançados e algumas umas outras características presentes no exame de anátomo patológico da peça cirúrgica

Como são tumores menos sensíveis à radioterapia que o carcinoma de células escamosas, todo o esforço deverá ser feito no intuito de se realizar uma ressecção total da lesão.

Cirurgia

A cirurgia da glândula parótida tem uma particularidade pois tem a necessidade de dissecção do nervo facial que tem seus ramos passando no interior da glândula. O objetivo é retirar o tumor sem lesar o nervo.  Esta dissecção é bastante delicada e minuciosa e pode levar a traumas no nervo que ocasionam a perda de função temporária. Apesar da sequela de paralisia facial ser bastante incômoda, isto é um risco da cirurgia e não ocorre em todos e a maioria dos casos retorna a mobilidade normal em um prazo de até 6 meses de pós operatório.

O tratamento dos linfonodos do pescoço deve ser feito em todos os casos em que haja evidência de metástases linfonodais e deve ser considerado de forma eletiva em carcinomas de alto grau, mesmo com pescoço sem metástases clinicamente visíveis. 

A cirurgia da glândula submandibular também corre o risco de paralisia facial, mas apenas do ramo do nervo responsável pela contração do músculo que traciona o canto inferior do lábio, podendo haver assimetria no sorriso, que na maior parte das vezes é temporária.

Radioterapia

A radioterapia costuma ser indicada como um tratamento adjuvante à cirurgia e nos casos de doença em que não seja possível ou desejável realizar cirurgia. 

Alguns critérios do exame anátomo patológico cirúrgico, como margens comprometidas, extensão extracapsular do linfonodo, invasão perineural e estadio clínico avançado são as principais indicações de radioterapia adjuvante.

Quimioterapia, imunoterapia e drogas alvo

A quimioterapia é utilizada sempre como um complemento ao tratamento principal curativo do câncer de glândulas salivares e não isoladamente. A quimioterapia, sem outros tratamentos, é normalmente um tratamento paliativo.

Drogas alvo e imunoterapia costumam ser utilizadas quando não é possível utilizar quimioterapia convencional, somente superando os resultados oncológicos em situações de tumores específicos. Muitos estudos estão ocorrendo atualmente para avaliar melhores associações destas drogas com os tratamentos convencionais já disponíveis e mudanças podem acontecer nos padrões de tratamento nos próximos anos .   

A quimioterapia em câncer de glândulas salivares pode ser utilizado das seguintes formas:

neoadjuvante: quando é realizado antes do tratamento principal. Muitas vezes é utilizada uma combinação de drogas.

adjuvante: é realizada de forma complementar ao tratamento principal cirúrgico, quase sempre acompanhada da radioterapia.

concomitante: nas situações onde não é possível ou desejável realizar cirurgia, a quimioterapia pode ser aplicada de forma concomitante (em conjunto) à radioterapia.

paliativa: a quimioterapia pode ser utilizada como um tratamento paliativo quando pretende-se evitar o crescimento do tumor que não pode ser curado, para amenizar sintomas ou para tratar tumores já com metástases à distância. 

A quimioterapia convencional costuma ser indicada em câncer de  glândulas salivares nas seguintes principais situações:

  • em câncer avançado que não é possível ou desejável ser operado
  • em câncer submetido a cirurgia com ressecção com margens comprometidas
  • em metástases para os linfonodos do pescoço que invadem as regiões adjacentes
  • em pacientes com metástases a distância

Se você tem esta doença ou está com receio que possa ter, quem deve procurar?

Habitualmente quem realiza o diagnóstico e tratamento cirúrgico dos tumores das glândulas salivares é o cirurgião de cabeça e pescoço. O cirurgião dentista e o otorrinolaringologista podem auxiliar no diagnóstico. Em câncer avançado, ocorre também a participação do radio oncologista e ocasionalmente do oncologista clínico. 

Renato Capuzzo
Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Cirurgia Oncológica de Seios Paranasais, Cirurgia Oncológica de Base de Crânio, Cirurgia Oncológica de Laringe, Hospital de Câncer de Barretos. renatocapuzzo@gmail.com

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