Câncer de Nasofaringe

A nasofaringe (rinofaringe) é a porção da faringe que fica na projeção da cavidade nasal. Isto representa uma região anatômica por onde se passa o ar do nariz para a orofaringe. Nesta região encontramos a adenóide, que é um tecido linfático como a amígdala, as aberturas das tubas de comunicação com o ouvido (trompa de Eustáquio ou tuba auditiva) e uma região denominada fosseta de Rosenmüller, de onde se originam os tumores da nasofaringe. 

O câncer da nasofaringe tem um comportamento muito diferente dos outros tumores de mucosa de cabeça e pescoço. Isto porque são tumores não associados ao tabagismo e etilismo, mas sim a fatores étnicos e ambientais. Algumas regiões e etnias, principalmente orientais (sudeste asiático, p.ex) tem este tumor de forma muito frequente, muito maior que em outros locais do mundo. 

O tipo de câncer que acomete esta região é o carcinoma de células escamosas, que apresenta subtipos com comportamentos diferentes de acordo com a classificação da organização mundial de saúde (WHO) e tem relação com a infecção com o vírus Epstein Bar para sua carcinogênese. 

Raramente, outros cânceres podem se originar na mucosa da nasofaringe, como os tumores derivados das glândulas salivares menores (carcinoma adenóide cístico e carcinoma mucoepidermóide) assim como o melanoma de mucosa e outros tumores menos frequentes. 

Quais são os sinais e sintomas?

O câncer de nasofaringe frequentemente demora a manifestar sintomas, mas dentre os mais comuns estão dor de cabeça, obstrução ou sangramento nasal e nódulo no pescoço e sensação de ouvido entupido de um dos lados. 

Devido ao tumor se originar próximo ao crânio, quando ele está avançado, pode raramente invadir estruturas e nervos da base do crânio e causar sintomas como alterações na voz, deglutição e movimentação do ombro.

É muito comum nos tumores de nasofaringe surgir metástases para os linfonodos do pescoço (caroços na lateral do pescoço), até mesmo em tumores pequenos. O aparecimento de uma metástase cervical sem um tumor primário definido sempre nos leva à necessidade de afastar um câncer da nasofaringe.

Como é feito o diagnóstico e a investigação (quais os exames mais pedidos)?

Exame endoscópico

O exame de nasofibroscopia é um exame em que se coloca um aparelho como um fio fino e flexível no nariz com o intuito de se visualizar as estruturas da cavidade nasal e nasofaringe. Além de visualizar a lesão, este exame pode realizar a biópsia do tumor em grande parte das situações. Entretanto, algumas vezes é necessário que se realize a biópsia da nasofaringe sob anestesia geral (paciente dormindo).

Anátomo patológico (biópsia)

A biópsia de um tumor da nasofaringe é feita quando se suspeita de sua existência através dos exames de imagem ou exame endoscópico. A biópsia é essencial para a confirmação do diagnóstico. Entretanto, frequentemente a biópsia é feita no linfonodo cervical suspeito e posteriormente se encontra o tumor de nasofaringe através dos exames de imagem. 

É importante nestes tumores, se pesquisar através do exame de imunohistoquímica, se estão associados ao vírus Epstein Bar (EBV) tanto na biópsia do tumor de nasofaringe ou da metástase cervical.

Exames de imagem

Para se ter uma melhor avaliação do acometimento destes tumores, serão necessários exames de imagem.

Tomografia computadorizada

Exame de mais fácil acesso e execução, é muito importante na avaliação da extensão do tumor como possível invasão óssea da base crânio. permitindo o correto estadiamento tumoral. Avalia tanto a invasão do tumor local como a presença de metástases em linfonodos do pescoço.

Ressonância magnética

Avalia de forma superior à tomografia o acometimento tumoral dos nervos cranianos, assim como invasão de partes moles e intracraniana que pode não ser claramente mostrado na tomografia. Devido a ser um exame com execução bem mais demorada que a tomografia, nem sempre é solicitado de rotina como primeira opção.

Cintilografia óssea

Os tumores de nasofaringe apresentam uma propensão à metástases ósseas e este exame pode ser solicitado para a avaliação deste tipo de acometimento ósseo.

PET-scan

Utilizado principalmente em casos de suspeitas de metástases a distância e para comparar a presença de tumor pré e pós tratamento, ajuda a elucidar imagens equívocas nos exames de imagem anteriormente citados.

Qual o tratamento?

Linha geral de tratamento

O câncer de nasofaringe tradicionalmente é tratado com radioterapia e quimioterapia. 

A terapia oncológica ocorre habitualmente com quimioterapia de indução, seguido de radioterapia e quimioterapia concomitantes.

O tratamento cirúrgico está reservado para situações de falha do tratamento inicial, portanto cirurgias de resgate, ou para tipos histológicos não sensíveis à radioterapia que ocorrem excepcionalmente.

Radioterapia

O tratamento com radioterapia envolve a região da nasofaringe  e a drenagem dos linfonodos do pescoço, normalmente de forma bilateral.

As técnicas mais atuais de radioterapia permitem que sejam poupadas da radiação algumas estruturas anatômicas que podem causar sintomas de alterações visuais e de nervos importantes da base do crânio. Esta técnica é denominada IMRT e auxilia em muito a evitar sequelas da radioterapia.

A radioterapia quase sempre é associada à quimioterapia, exceto nos casos onde há contraindicação para utilização de quimioterápicos.

Durante o tratamento com radioterapia pode ocorrer inflamação da mucosa da boca e o aparecimento de feridas na pele do pescoço.

Reirradiação

Em caso de falha do primeiro tratamento com radioterapia, pode ser considerado um segundo tratamento com radioterapia, desta vez, apenas no local da falha de tratamento. Para esta situação é mandatória a utilização da técnica de IMRT e os efeitos tóxicos da radiação são também mais intensos.

Cirurgia

A cirurgia do câncer de nasofaringe é uma exceção. Entretanto, quando necessária é fundamental.

 A técnica cirúrgica evoluiu nos últimos anos devido a incorporação de acessos endoscópicos. A nasofaringe é um local de difícil acesso para se realizar uma ampla ressecção cirúrgica com margens de segurança.

Existem acessos abertos à nasofaringe e acessos endoscópicos. Os acessos abertos envolvem incisões na face e necessidade de osteotomias dos ossos maxila (necessidade de cortes nos ossos) que depois são unidos novamentes com placas. Estes procedimentos abertos são cirurgias de grande porte que ocorrem em centros especializados, mas às vezes são a única forma de obter uma ressecção adequada do tumor.  

O acesso endonasal é realizado através das narinas e é bastante interessante quando é possível obtê-lo, porém normalmente reservado a tumores menores. 

O racional para o tratamento cirúrgico do pescoço é que após a radioterapia, apenas os casos que apresentem forte suspeita de doença residual nos linfonodos cervicais, devem ser submetidos ao esvaziamento cervical.

Se você tem esta doença ou está com receio que possa ter, quem deve procurar?

Um médico otorrinolaringologista ou um cirurgião de cabeça e pescoço pode avaliar a nasofaringe e distinguir se realmente há alguma lesão suspeita de câncer e indicar uma biópsia se necessário tanto da nasofaringe como do pescoço

Habitualmente, quem conduz qual o tratamento do paciente com câncer de nasofaringe é o oncologista clínico, juntamente com o radio oncologista, associado ao cirurgião de cabeça e pescoço.

Quimioterapia, imunoterapia e drogas alvo

A quimioterapia é utilizada sempre como um complemento ao tratamento principal curativo e não isoladamente em câncer de nasofaringe. A quimioterapia, sem outros tratamentos, é normalmente um tratamento paliativo.

A quimioterapia em câncer de nasofaringe pode ser utilizado das seguintes formas:

neoadjuvante: quando é realizado antes do tratamento principal. Muitas vezes é utilizada uma combinação de drogas. Este é o padrão atual em nasofaringe.

concomitante: quando ocorre o tratamento de radioterapia e quimioterapia de forma conjunta, ao mesmo tempo. Muitas vezes ocorre após o tratamento de quimioterapia de indução. Neste caso, é utilizado apenas uma droga como quimioterapia.

paliativa: a quimioterapia pode ser utilizada como um tratamento paliativo quando pretende-se evitar o crescimento do tumor que não pode ser curado para amenizar sintomas ou para tratar tumores já com metástases à distância. 

Terapia alvo e imunoterapia costumam ser utilizadas quando não é possível utilizar quimioterapia convencional, somente superando os resultados oncológicos em situações de tumores específicos. Muitos estudos estão ocorrendo atualmente para avaliar melhores associações destas drogas com os tratamentos convencionais já disponíveis e mudanças podem acontecer nos padrões de tratamento nos próximos anos.

Renato Capuzzo
Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Cirurgia Oncológica de Seios Paranasais, Cirurgia Oncológica de Base de Crânio, Cirurgia Oncológica de Laringe, Hospital de Câncer de Barretos. renatocapuzzo@gmail.com

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