A luta contra o câncer ganhou recentemente um forte aliado. O foco das pesquisas oncológicas está voltado para os tratamentos imunoterápicos, que têm atingido uma grande evolução e resultados animadores nos últimos três anos. A imunoterapia não atinge diretamente o tumor, como fazem a quimio e a radioterapia. Ela ativa o próprio sistema imunológico do paciente para que ele combata as células cancerígenas.
Entre os representantes dessa nova classe destacam-se o Pembrolizumabe e o Nivolumabe. Os nomes são complicados, mas o princípio é fácil de entender. As células do sistema imunológico humano produzem uma proteína chamada PD-1. Para se proteger, as células cancerígenas expressam a proteína PD-L1. A ligação entre estas duas proteínas acaba camuflando o tumor, o que desativa as defesas naturais do organismo. Os imunoterápicos impedem a interação entre as proteínas e permitem que o sistema imunológico reconheça e se defenda do câncer.
Nos Estados Unidos, que adotaram uma política que agiliza a liberação de tratamentos para doenças graves, as drogas, chamadas comercialmente de Keytruda (Pembrolizumabe) e Opdivo (Nivolumabe), estão aprovadas para tratamento de melanoma e câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP). O Nivolumabe está aprovado também em situações de câncer de rim metastático e Linfoma de Hodgkin, enquanto o Pembrolizumabe recentemente foi liberado para pacientes com câncer de cabeça e pescoço metastático ou que tenha voltado na região do pescoço após quimioterapia à base de platina.
Já no Brasil, o Nivolumabe foi recentemente aprovado para pacientes com melanoma e câncer de pulmão de células não pequenas. O Pembrolizumabe ainda aguarda a liberação da Anvisa.
O acompanhamento de pacientes com melanoma ou CPCNP que utilizaram a imunoterapia é surpreendente. Primeiro, observa-se uma estabilização ou diminuição considerável do tumor e, em alguns casos, a remissão total prolongada, o que confere uma menor incidência dos sintomas das doenças. E o entusiasmo aumenta com resultados que apontam um ganho no tempo de sobrevida.
Nas pesquisas voltadas ao câncer de cabeça e pescoço, as primeiras análises também mostram que a imunoterapia controlaram o tumor por um tempo mais prolongado e aumentaram a taxa de sobrevida sobre o tratamento padrão, baseado em quimioterapia. Outro dado importante é que os estudos têm demonstrado que a imunoterapia apresenta maior eficácia nos casos de câncer de cabeça e pescoço relacionados ao papillomavírus humano (HPV).
O médico oncologista Dr. Tadeu Paiva Jr ressalta que, embora ainda não tenha sido liberado para esse tipo de tumor, a comunidade médica já considera o Nivolumabe como novo padrão de tratamento em pacientes com câncer de cabeça e pescoço recorrente ou metastático após terapia com quimioterapia baseada em platina. “A droga foi a primeira a demonstrar aumento significativo na sobrevida em um estudo fase 3 nesse perfil de pacientes”.
Segundo Dr. Tadeu, uma das maiores vantagens da imunoterapia é a diminuição dos efeitos colaterais, já que a quimioterapia e a radioterapia são muito mais tóxicas e agressivas ao corpo. Assim, até mesmo pacientes com mais idade, que antes evitavam lutar contra a doença por falta de condições físicas, contam agora com mais essa esperança. O médico destaca ainda que esse novo tipo de terapia parece educar o organismo a combater o câncer. “Em muitos casos estudados, o tumor continua a reduzir mesmo depois do fim do tratamento”.
Embora ainda não se possa falar em cura, ou no fim da quimioterapia, os resultados trazem otimismo à classe médica e aos pacientes. E isso é só o começo. Os tratamentos tendem a evoluir nos próximos anos, uma vez que as pesquisas com imunoterápicos estão sendo ampliadas para abranger diversos tipos de câncer.
por Tadeu Paiva Jr – Oncologista Clínico do CEPON (Florianópolis), Clínica SOMA (Florianópolis) e do AC Camargo Cancer Center (São Paulo).