Câncer de Laringe e Hipofaringe

Aqui serão agrupadas estas duas localizações de tumores pois estão muito próximas e às vezes são sobreponíveis, apresentando formas de tratar semelhantes.  

A laringe é o órgão que se projeta na pele do pescoço, onde popularmente se denomina Pomo de Adão. É um órgão altamente sofisticado que têm as funções básicas de: evitar que a comida que ingerimos vá para a traquéia e pulmão;  permitir que o ar da respiração percorra as vias naturais como boca, nariz e faringe e por último produzir a voz nas pregas vocais. 

Existem basicamente duas regiões principais da laringe onde se originam os tumores: a supraglote e a glote. (mostrar desenho). A subglote é uma região onde raramente se iniciam tumores.  

A hipofaringe é a região da faringe que fica adjacente à laringe supraglótica. Nesta região, quando a laringe se fecha ao engolirmos, os alimentos são direcionados para a hipofaringe e consequentemente para o sistema digestório. 

A grande maioria dos cânceres de laringe/hipofaringe são do tipo carcinoma de células escamosas, que é associado ao consumo de tabaco e álcool.

Pode haver tumores menos comuns como os sarcomas originados nas cartilagens da laringe, ou tipos muito raros como os carcinomas originados nas glândulas salivares menores, melanomas e outros sarcomas. 

Quais são os sinais e sintomas?

Tumores que começam na supraglote dão sintomas como dor e dificuldade para engolir, voz mais abafada e sensação de caroço na garganta. Já os tumores que se iniciam na glote (pregas vocais) causam precocemente alterações na voz (rouquidão) e podem evoluir mais tardiamente para dificuldade de respirar e dor na garganta. 

Tumores iniciais de hipofaringe são frequentemente assintomáticos mas podem causar dor ao engolir. Já tumores avançados podem levar além da dor, dificuldade de engolir e até mesmo para respirar.

Podem ocorrer metástases no pescoço que se manifestam como caroços, principalmente nos tumores avançados da glote ou em qualquer estágio dos tumores supraglóticos ou de hipofaringe.

Como é feito o diagnóstico e a investigação (quais os exames mais pedidos)?

O diagnóstico do tumor da laringe/hipofaringe é feito através do exame de laringoscopia, que visualiza a laringe/hipofaringe direta ou indiretamente. Este exame pode ser feito acordado e geralmente é feito em consultório com dispositivos específicos (exame indireto) ou pode ser realizado em centro cirúrgico sob anestesia geral (exame direto). A verificação da mobilidade das pregas vocais com o paciente acordado é muito importante para classificar o câncer como inicial ou avançado. 

Dependendo da localização e das características do tumor e do paciente, a biópsia da lesão suspeita pode ser realizada com o paciente dormindo (anestesia geral) ou acordado. 

A biópsia de hipofaringe muitas vezes é realizada através do exame de endoscopia digestiva alta que também avalia uma possível extensão deste tumor para o esôfago.

A biópsia e o exame anátomo patológico são fundamentais para se estabelecer o diagnóstico de câncer. 

Exames de imagem como tomografia computadorizada ou ressonância magnética são importantes para se realizar o estadiamento do tumor e auxiliar na decisão de opção de tratamento, avaliando a extensão local do tumor, a presença de metástases nos linfonodos do pescoço ou em outros órgãos como o pulmão.  

Em casos onde há metástases no pescoço, é aconselhável avaliar a presença de metástases pulmonares por tomografía de tórax.

O exame de Pet-scan pode ser solicitado em situações de suspeita de metástases a distância.

Qual o tratamento?

Linha geral de tratamento

Os tumores malignos iniciais da laringe glótica devem ser tratados apenas com uma modalidade terapêutica: cirurgia ou radioterapia. Atualmente há a tendencia cirúrgica de se realizar cirurgias endoscópicas da laringe (acessada pela boca, sem fazer incisão no pescoço) com o uso de laser de CO2 ou diodo. Cirurgia parcial aberta da laringe é menos realizada atualmente mas pode ser indicada na ausência destes recursos de cirurgia endoscópica ou em situações específicas.  

Os tumores iniciais de hipofaringe são raramente diagnosticados pois são pouco sintomáticos. Entretanto, podem ser tratados com cirurgia endoscópica ou aberta, a depender de seu tamanho e localização. Quando não é possível ressecar o tumor sem sacrificar a laringe, costuma-se indicar protocolos de preservação de órgãos com radioterapia e quimioterapia.

Já o câncer avançado da laringe/hipofaringe vem apresentando mudanças nas tendências de tratamento nas últimas décadas, mas sempre conta com uma combinação de modalidades entre cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Os protocolos de preservação de órgãos são a combinação de radioterapia e quimioterapia com o intuito de evitar a cirurgia de retirada da laringe (laringectomia total)

Tumores malignos muito avançados de laringe/hipofaringe (invasão das cartilagens da laringe) ou na laringe que já não apresenta mais função por destruição do tumor, são preferencialmente e inicialmente tratados com cirurgia, associado a radioterapia e por vezes quimioterapia.

Já tumores não tão avançados, mas ainda com uma laringe funcionante, podem ser tratados com quimioterapia e radioterapia (de forma sequencial ou concomitante) ou serem submetidos a cirurgia, seguido de radioterapia.

A decisão de qual tipo de tratamento que será indicado leva em conta o desejo do paciente, recursos disponíveis e experiência prévia do serviço em determinada forma de tratamento. 

Cirurgia

A cirurgia da laringe pode removê-la parcialmente ou totalmente. As cirurgias parciais podem ser abertas (com incisão no pescoço) ou endoscópicas (acessadas pela boca).

Em tumores iniciais, a ressecção endoscópica parcial da laringe normalmente apresenta bons resultados oncológicos e funcionais e são melhores toleradas que as cirurgias abertas. Entretanto, a cirurgia parcial aberta da laringe às vezes se faz necessário, apresentando bons resultados de cura, porém com pós operatório mais difícil, necessitando de traqueostomia e sonda de alimentação temporariamente.

No câncer avançado de laringe e hipofaringe, a regra é a necessidade de remoção total da laringe (laringectomia total), sendo possível cirurgias parciais abertas em raras situações. 

Logo após a cirurgia de laringectomia total é necessário não se alimentar pela boca e sim por uma sonda de alimentação enquanto há a cicatrização do fechamento da faringe. Quando ocorre a abertura da sutura da faringe (fístula) é necessário ficar sem se alimentar pela boca até a resolução deste problema.

Em situações de laringectomia total, não é possível respirar mais pelo nariz e pela boca, mas sim por uma traqueostomia (abertura da traqueia para a pele do pescoço), mas é possível se alimentar pela boca e conseguir emitir voz por algumas formas alternativas. 

Atualmente, grande parte das cirurgias de laringectomia total são realizadas em situações de falha do tratamento com radioterapia e quimioterapia. Nesta situação, denominada cirurgia de resgate, a taxa de complicações é maior devido a dificuldade de cicatrização dos tecidos que receberam radioterapia.

Radioterapia

A radioterapia em tumores iniciais da laringe glótica pode ser utilizada como tratamento definitivo com bons resultados oncológicos e funcionais. Neste caso será irradiado apenas o estojo laríngeo. 

Já em câncer supraglótico ou hipofaringe inicial, é necessário irradiar tanto a laringe como a drenagem para os linfonodos do pescoço

Nos tumores avançados de laringe/hipofaringe, o tratamento com radioterapia sempre deve ser acompanhado de quimioterapia. A sequência de tratamento pode ser a radioterapia em conjunto (concomitante) com quimioterapia, ou precedida pela quimioterapia (neoadjuvante). A radioterapia, nesta situação, incluirá a drenagem linfática do pescoço.

O tratamento com radioterapia da laringe/hipofaringe ocorre apenas uma única vez, devendo ser bem planejado em qual momento devemos utilizar esta importante modalidade terapêutica.

Quimioterapia, imunoterapia e drogas alvo

A quimioterapia é utilizada sempre como um complemento ao tratamento principal curativo e não isoladamente. 

Drogas alvo e imunoterapia costumam ser utilizadas quando não é possível utilizar quimioterapia convencional, somente superando os resultados oncológicos em situações de tumores específicos. Muitos estudos estão ocorrendo atualmente para avaliar melhores associações destas drogas com os tratamentos convencionais já disponíveis e mudanças podem acontecer nos padrões de tratamento nos próximos anos .   

A quimioterapia em câncer de laringe/hipofaringe pode ser utilizada das seguintes formas:

neoadjuvante: quando é realizado antes do tratamento principal. Muitas vezes é utilizada uma combinação de drogas.

adjuvante: é realizada de forma complementar ao tratamento principal cirúrgico de laringectomia, quase sempre acompanhada da radioterapia.

concomitante: nas situações onde não é possível ou desejável realizar cirurgia, a quimioterapia pode ser aplicada de forma concomitante (em conjunto) à radioterapia.

paliativa: a quimioterapia pode ser utilizada como um tratamento paliativo quando pretende-se evitar o crescimento do tumor que não pode ser curado para amenizar sintomas ou para tratar tumores já com metástases à distância. 

A quimioterapia convencional costuma ser indicada em câncer de laringe/hipofaringe nas seguintes principais situações:

  • em câncer avançado que não é possível ou desejável ser operado
  • em câncer submetido a cirurgia com ressecção com margens comprometidas
  • em metástases para os linfonodos do pescoço que invadem as regiões adjacentes
  • em pacientes com metástases a distância 

Se você tem esta doença ou está com receio que possa ter, quem deve procurar?

Um médico otorrinolaringologista ou um cirurgião de cabeça e pescoço pode avaliar a laringe/hipofaringe e distinguir se realmente há alguma lesão suspeita de câncer. 

Habitualmente, quem conduz qual o tratamento do paciente com câncer de laringe é o cirurgião de cabeça e pescoço ou o oncologista clínico, juntamente com o radio oncologista.

Renato Capuzzo
Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Cirurgia Oncológica de Seios Paranasais, Cirurgia Oncológica de Base de Crânio, Cirurgia Oncológica de Laringe, Hospital de Câncer de Barretos. renatocapuzzo@gmail.com

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