Dia Nacional da Conscientização sobre as Condições Crônicas, em 10 de dezembro, convida à reflexão sobre políticas de saúde e prevenção
O tabagismo continua a ser uma das principais ameaças à saúde pública no Brasil e no mundo, impactando diretamente a incidência de condições crônicas e sobrecarregando os sistemas de saúde. O tabaco é responsável por cerca de 8 milhões de mortes anualmente em todo o mundo, das quais mais de 173 mil ocorrem no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA).
A relação entre o fumo e doenças crônicas é inquestionável. É um fator de risco que agrava comorbidades aumentando a necessidade de internações hospitalares e tratamentos complexos. O consumo de cigarros e outros produtos derivados do tabaco está fortemente associado a condições como doenças cardiovasculares, doenças respiratórias crônicas, diabetes tipo 2 e diversos tipos de câncer, incluindo câncer de pulmão, boca, garganta, laringe e esôfago.
A nova Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer, instituída pela Lei 14.758, enfatiza a importância de estratégias intersetoriais para reduzir a incidência e mortalidade dos diferentes tipos de tumores, incluindo o impacto de fatores de risco como o tabagismo.
A lei, aprovada no fim de 2023 e ainda aguarda regulamentação, reforça a aplicação de diretrizes da Convenção-Quadro da OMS para o Controle do Tabaco (CQCT), que estabelece ações para a educação, conscientização e promoção de ambientes livres de fumo. O Programa Nacional de Controle do Tabagismo, sob coordenação do INCA e em parceria com outras secretarias e órgãos, integra essas diretrizes ao contexto de saúde pública do Brasil.
Entre as ações destacadas na legislação, está o fortalecimento da rede de tratamento do tabagismo no Sistema Único de Saúde (SUS), campanhas educativas e medidas de redução da demanda por tabaco. Essas iniciativas visam não só proteger os indivíduos, mas também diminuir os custos sociais e econômicos associados às doenças tabaco-relacionadas. Esta seria uma medida para aliviar a carga sobre o SUS, com a prevenção de condições crônicas como câncer e doenças cardiovasculares e respiratórias, que representam as principais causas de óbitos no Brasil.
O apoio a alternativas econômicas para agricultores que cultivam fumo e a vigilância contínua da prevalência do tabagismo no país também fazem parte desse conjunto de medidas voltadas à redução dos danos causados pelo tabaco.
Assim, o impacto do tabagismo não é apenas uma questão de saúde individual, mas coletiva. A carga das condições crônicas ligadas ao tabagismo estende-se às famílias e às comunidades, que frequentemente enfrentam despesas com cuidados médicos e perdas de produtividade devido ao adoecimento de parentes.
A ACBG Brasil, em sua campanha “Tabagismo 100 Sentido” (Clique na imagem para ver a publicação), destaca a urgência de reformar o sistema tributário do país para incluir o tabaco em uma categoria especial de taxação. Essa estratégia, além de desestimular o consumo, tem o potencial de devolver recursos ao SUS, que precisa arcar com os tratamentos das doenças relacionadas ao tabagismo. Já existem evidências robustas de que cada real investido na prevenção e redução do consumo de tabaco pode gerar uma economia significativa para os cofres públicos, aliviando o peso financeiro dos tratamentos.
O impacto do tabagismo não é apenas uma questão de saúde individual, mas coletiva. A carga das condições crônicas ligadas ao tabagismo se estende às famílias e comunidades, que enfrentam despesas médicas e perdas de produtividade devido ao adoecimento de parentes. No Dia Nacional da Conscientização sobre as Condições Crônicas (10/12), é fundamental lembrar que um sistema tributário mais robusto e focado pode garantir mais recursos para o SUS investir em prevenção, diagnóstico precoce e tratamentos de qualidade para a população, reduzindo os danos causados pelo consumo de um produto que afeta tanto a saúde quanto a economia.
A grande vilã
A Nicotina é uma droga psicoativa, alcaloide básica, líquida e de cor amarela que constitui o princípio ativo do tabaco. O seu nome deve-se ao diplomata francês Jean Nicot, que foi o difusor do tabaco na França. A nicotina desempenha um papel central na potencialização dos danos causados pelas demais substâncias presentes nos produtos derivados do tabaco. Apesar de não ser diretamente carcinogênica, a nicotina é o principal motor que perpetua a exposição a esses compostos e aumenta os danos sistêmicos ao organismo.
A nicotina estimula os receptores de acetilcolina no cérebro, liberando dopamina, neurotransmissor ligado à sensação de prazer. Esse mecanismo leva à dependência química, dificultando a cessação do hábito de fumar. Ciclo de reforço: O uso contínuo do tabaco mantém o cérebro em um ciclo de craving (desejo intenso), perpetuando o hábito.
Facilita a absorção de substâncias tóxicas:
A nicotina pode aumentar a permeabilidade celular, permitindo que outras substâncias nocivas, como o alcatrão e as nitrosaminas, penetrem mais facilmente nas células.
Cria dependência:
Ao gerar vício, a nicotina mantém o consumo contínuo de tabaco, aumentando a exposição prolongada do organismo às centenas de compostos químicos presentes, incluindo os carcinogênicos.
Amplifica respostas inflamatórias:
A nicotina pode agravar processos inflamatórios e imunossupressores, tornando o corpo mais suscetível a doenças crônicas causadas por outras substâncias tóxicas do tabaco.
Efeitos sistêmicos:
Seu impacto no sistema cardiovascular, respiratório e metabólico potencializa os riscos associados ao consumo de produtos do tabaco, tornando-a um elemento-chave no quadro de morbidade relacionado ao tabagismo.
Cigarros eletrônicos e nicotina
Porque são tão perigosos?
Os dispositivos eletrônicos de fumar (DEFs) entregam altas doses de nicotina de forma rápida e eficiente. Isso amplifica a dependência e os riscos cardiovasculares, respiratórios e metabólicos, apesar da ausência de alguns componentes químicos presentes no cigarro convencional.
Fumaça X Vapor
Embora haja vantagens relativas ao vapor dos DEFs em comparação à fumaça do cigarro convencional, ambas as formas de consumo representam riscos à saúde!
A fumaça do cigarro contém mais de 7.000 substâncias químicas, incluindo alcatrão, monóxido de carbono e nicotina. Muitas dessas substâncias são conhecidas por serem cancerígenas e estão diretamente relacionadas a doenças como câncer, doenças cardiovasculares e pulmonares. Já o vapor dos DEFs não é tão inocente quanto falam. Carrega substâncias prejudiciais, como formaldeído, acetaldeído e metais pesados provenientes das bobinas de aquecimento. Seu uso em maior intensidade oferece um grave risco a EVALI e dependência de nicotina.
Tabagismo: Impacto no corpo
1. Boca e cavidade oral
Câncer de boca e aumento significativo do risco de doenças periodontais, que podem levar à perda dos dentes. American Dental Association, 2023
2. Laringe
Câncer de laringe, sendo o tabagismo a maior causa evitável dessa doença. International Agency for Research on Cancer, 2022
3. Tireoide
Maior risco de doenças autoimunes da tireoide, como a doença de Graves e tireoidite de Hashimoto. Journal of Endocrinology, 2023
4. Pulmões
Câncer de pulmão, responsável por mais de 85% dos casos da doença, além de enfisema e bronquite crônica. Organização Mundial da Saúde, 2023
5. Coração e sistema cardiovascular
Doença arterial coronariana, aumentando o risco de infartos e insuficiência cardíaca. American Heart Association, 2023
6. Cérebro
Maior risco de acidente vascular cerebral (AVC) devido ao comprometimento da circulação sanguínea e maior probabilidade de formação de coágulos. Centers for Disease Control and Prevention, 2023
7. Fígado
Câncer de fígado e agravamento de doenças como cirrose e esteatose hepática em fumantes. European Liver Association, 2023
8. Estômago
Câncer de estômago, aumento do risco de úlceras gástricas e refluxo ácido crônico. Mayo Clinic, 2023
9. Pâncreas
Câncer de pâncreas, que é altamente letal e tem forte ligação com o consumo de tabaco. National Cancer Institute, 2023
10. Rins
Câncer renal e agravamento de doenças renais crônicas devido ao impacto tóxico das substâncias do tabaco. Kidney International, 2023
11. Bexiga
Câncer de bexiga, com o tabagismo sendo o principal fator de risco. American Cancer Society, 2023
12. Cólon e reto
Aumento do risco de câncer colorretal e polipose, especialmente em fumantes de longa data. Journal of Clinical Oncology, 2023
13. Pele
Envelhecimento precoce devido à degradação de colágeno e elastina, além de maior risco de câncer de pele. British Journal of Dermatology, 2023
14. Sistema reprodutor
Nos homens, disfunção erétil; nas mulheres, infertilidade e maior risco de complicações na gravidez. World Health Organization, 2023
15. Sistema imunológico
Imunossupressão, tornando o corpo mais vulnerável a infecções e dificultando a recuperação de doenças. Annals of Immunology, 2023
Veja o que a imprensa fala sobre o tema:
Clique nas imagens para ver a publicação no instagram
Quer saber mais? Veja esta postagens!
Quer parar de fumar?
Uma vitória para comemorar todos os dias com muita disposição e saúde! Este manual contém as informações sobre os primeiros passos para te ajudar a parar de fumar.
O SUS apoia sua decisão. Se precisar de ajuda, procure uma UBS – Unidade Básica de Saúde (Postinho) mais próxima de você e informe-se.
Clique na imagem para acessar e baixar o manual.
Baixe, leia com atenção e coloque propósito na sua decisão!
Sobre a ACBG Brasil
A Associação Brasileira de Câncer de Cabeça e Pescoço, ACBG Brasil, é uma organização da sociedade civil, de direito privado, sem fins lucrativos, que trabalha em prol dos pacientes e portadores de câncer de cabeça e pescoço e seus familiares em todo o Brasil. Fundada em 2015 com a missão de dar voz a quem não tem e ser os olhos e ouvidos de tantos outros também e com a visão de, no longo prazo, diminuir a mortalidade dos pacientes e ampliar a qualidade de vida dos portadores de câncer de cabeça e pescoço, a ACBG Brasil já alcançou os cinco cantos do Brasil por meio de suas iniciativas.
Melissa Medeiros, sobrevivente de câncer de laringe
Fundadora e Presidente Voluntária da ACBG Brasil e Conselheira no Conselho Nacional de Saúde – CNS, Conselheira Consultiva do INCA e Conselheira Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência / SC.